domingo, 6 de janeiro de 2008

MÁGICA

I



Dulce perguntou-me que tipo de poema era o meu.
Dulce nunca me soube entender. Ela num quis.
Eu disse que era mágico; suave como um triz,
Mas ela não entendeu. Daí nem sei bem o que se deu.


Dulce disse que se mágico não poderia ser meu
E disse que se fosse para ela jamais entenderia
´´Poeta escreve livros só depois é que vem a poesia``
Por isso é que eu acho que a Dulce nunca viveu


Como é que alguém pode falar uma coisa dessas
Imagina se eu carecesse dessa aprovação
De certo seria um poeta a menos neste mundo


E o mundo anda tão carecido dessas brechas
Que a poesia faz com tanta invenção
Deixa lá a Dulce com esse seu viver carrancudo


II


Eu prefiro é ficar com meu poema aqui sozinho
Que nesse instante passa alguém diferente
Mas bem diferente mesmo da Dulce-indiferente
E vai virar o meu poema num copo de vinho


De golada em golada com direito a glute-glute
Ah, Sim!... Esse alguém vai passar aqui.
Você vai ver. Certamente eu vou sentir.
E vai dar na fala dela um megagrandechute.


E vai fazer do meu poema uma forma de expressão.
Lembra o que eu falei das brechas. Sim, as brechas!
Vai sacudir o meu poema como que vomita um coração.


Esse alguém que eu falei, diferente da Dulce-sem-paixão,
Vai chover minha poesia feita toda de flechas,
E vai ser um baque enorme quando a Dulce tiver essa visão!


III


Eu tô dizendo... É melhor ficar aqui mesmo
Que há sempre algo por acontecer acontecendo
Parece loucura esse papo, mas basta estar vivendo
E bem aberto, de abraços abertos sem meio termo


Deixa lá a Dulce que ela não sabe. Que ela não quer.
E é direito dela não querer o que quer que seja
´´E se ela vir com essa história do que é pureza?``
Deixe ela dizer. A Dulce nunca foi boa em ser mulher


Ela é muito certinha. Mulher num pode ser certinha
Fica chato quando se é, mulher boa tem de ser safada
Mas safada no bom sentido da safadeza. A Dulce é uma fada


Dessas do tamanho exato de um minúsculo mosquito
E ela fica mesmo com esses papos de pureza zunindo no ouvido
Por isso é que eu prefiro a Marta lá do curva-das-galinha


IV


Aquela sim sabe o que é viver e sabe ser mulher
E num é por ela ser a grande puta que de fato é
Mas sim por ter aquele molejo de sambar no ouvido
As palavrinhas mais doces desse mundo perdido


É por ela ser safada no bom sentido da safadeza
E conseguir magicamente encontrar, na lama de sua impureza,
Algo de mais puro e cativante do que a pureza da Dulce-indiferente
É por isso que eu gosto da Marta. Ela consegue ser bem diferente


Por isso ela pode ser mais amada que a Dulce-conto-de-fadas
Por isso ela sabe ser mulher feita toda de amor e molejos
É por isso que ela vive os amores que a Dulce perdeu nas calçadas


É ela a protetora verdadeira de nossos tristes lares
O que seria da Dulce se não fosse a Marta em nosso bares?
O que seria da vida não fosse a Marta com seus desprezos?...


v

Conhecendo outras vozes...

Quá... Eu quero é provas de que a Dulce sabe o que é perfeito
Fica aí falando de pureza, mas quando vai lá em casa...
Eu fico até com vergonha de contar. Queima mais que brasa.
E manda-me fazer umas coisas de que nem sei o nome direito

São umas coisas de um livro lá que ela tem. O marido Comprou não sei onde.
Acho que nem ele sabe que é dela aquele livro que esconde,
Pois foi o bestão que comprou, mas a Marta num quis fazer nada daquilo não
Alegando ser puta das mais baratas e não um diabo de aberração

(O marido dela também é cliente da Marta como se deu por perceber)
Eu sou cliente da Dulce, minha vantagem é que eu não pago nada.
Acho que se pagasse não teria que bancar um porco pela escada,

Essa é a desvantagem. Mas eu não reclamo. Eu até gosto de ser.
E enquanto o bestão ta lá pagando pra comer a Marta
Eu, cafetão da Marta, ganho dinheiro comendo a Dulce que é bem mais barata ...





CRISANTE

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