domingo, 16 de setembro de 2007

Subterfúgio da condição



Ouça o som do vento, o crepitar das árvores e a tempestade...

Quisera eu sabê-los...

Além da tempestade há o silêncio. O silêncio pacifica, mas as dores gritam por dentro; o silêncio pacifica, As dores gritam...

Dores são elos perdidos, e a vaidade fala: Estranha criatura que busca o mundo tateando o nada!

Porque é dela o seio da espécie e a partir dela tudo se transforma em existência vazia – vazia, pois nada se faz notar –, diante dela, feia é a flor e o derramamento de cor dos hemisférios.

Enquanto ser castigado, luz é que me falta; e vens atrevida do teu nicho; maldita és tu mulher, malditas são as flores da tua beleza e os arcos do teu poder, pois de mim foste a morte, e de tudo que creio. Tu que foste um dia a estrela maior do meu devaneio, musa infindável de poesia infinita, és agora o âmago de toda tristeza.

Fratricida do amor és agora!

Mas nunca, eu repito: NUNCA!...

...hei de perdoar-me por tê-la mandado embora!



CRISANTE

QUANDO EU ME FOR EMBORA




Quando eu me for embora, Maria, não
Te tranques em teu coração,
Nem te bastes às minhas promessas.
Tampouco te bastes nesta dor de paixão.

Quando eu me for, Maria, embora
Deixar-te-ei os dias, deixar-te-ei auroras
Por isto, meu amor, Maria, não te tranques
Em teu coração quando enfim chegar-me a hora...

Lembra-te só das coisas miúdas
(Quão triste foi a lua deste nosso amor)
Verás então – não menos absurdas –
Pequenas contas de fé que em ti este poeta regou

Lembra-te apenas das tardes serenas,
Dos beijos e risos, das noites em flor
Saberás então – em dores amenas –
Que a morte, Maria, é muito pequena pra quem já amou...

CRISANTE

ELEGIA




Hoje me falaram da possibilidade.
A possibilidade como algo que não quero
Por isso vim renovar meus votos
Quebrar de vez a possibilidade
De não ser por ti
Pois só tu tens o direito de não ser por mim

Só tu te reservas, só tu te ausentas do rosto que
Levas – é treva íntima teu nome
Este rosto teu... Esta cara!
É teu dever não ser por mim.
Do alto de tua tristeza, transbordo...
Supero a alegria!

E deves tu não ser por mim
E tão logo já não deves nada
Tão logo já não deves
Sequer um dia deveste

(Eu não tenho o teu nome)


CRISANTE

sábado, 15 de setembro de 2007

o príncipe e O MENDIGO


Desde o início, mesmo antes do bem e do mal,
certo e errado se acasalavam
de modo, e modo tal, que a natureza
– aquela que esquecemos ali no canto –
travestiu-se de homem a fim de se prejudicar.
´´Que danadinha que ela é`` disse o patrono de coisa alguma
e, vejam só, ele também é homem.
Pia...Até parece que ele tem condições de tecer comentários concernentes à pobre maravilha do ser que é. Agora, remontando à gênese do problema, que, diga-se de passagem, nem chega a isso, digo ,em detrimento dela, a natureza, que estão todos errados nesse ponto, de maneira
que a única que pode estar com a razão (se é que isso existe) é ela, a mulher do retrato...


CRISANTE

Partimpim



Ser menino...
Já faz um tempão que busco isso
E posso lhe dizer: Não é fácil ser menino
Nos dias de então

Lá fora a mulher, ela espera seu expresso polar
Pobre mulher que espera
Pobre de mim que não sei sonhar

Eu que busquei a palavra mágica
Pobre de mim. Eu não sei sonhar.
(Minha espera acaba quando o ônibus chega)

CRISANTE

À PARTE EM MIM



não existe vida
quando existe vida
quando existe vida
existe morte e risco
e existe vida
quando existe vida
existe morte existe vida
é quando não faço força pra existir

CRISANTE

terça-feira, 4 de setembro de 2007

MATEMÁTICA



Sempre tivemos terríveis problemas

De incompatibilidade, a matemática e eu.

E digo-lhes que nunca em minha vida achei-me

Em culpa ou em divida. A matemática é que sempre

Perseguiu-me com suas minimalidades e seus estados

De humor caóticos. Sempre reclamando, subtraindo sempre,

Ora dali ora daqui, qualquer causa que, em mim, lhe fizesse absoluta.

Será que não entende que sou poeta, que ocorro à margem do numeral, e se

Sou quem sou é que do amor não me fiz ausente?!

Ah!Nunca hei de engolir o numeral. Prefiro é ficar aqui com meus versos, daí então,

Se ao acaso alguém perguntar, digo apenas beber um copo d`água .



CRISANTE

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

INÍCIO



Vejo as janelas...

À tarde que se faz aberta

Que transforma carne

Lembranças, ônibus e faces.

Sinto o golpe. essência rude

Destes versos me faz um riso.

Mas não é riso, não se ri.

É típico meu espanto, um espanto

Típico e latino, cem mil vezes latino,

De quem não sabe o que se quer

Desta vida.

E destes vales catatônicos

–Sim, eu me vejo aberto –

Abro ainda o rio da manhã

Do eclipse dos olhos meus

Para ver nascer-me amor

Para saber que sou em ti

E que nada é quando não te sou

Mas a carne é feita de cios

E o amor, pouco demais,

Não conhece o coração...



CRISANTE