terça-feira, 30 de outubro de 2007

INSIDE OF ME

Escrevi um verso,
Um verso pesado
Vindo de mim,
De dentro de mim
- Acidente de mim -,
E bebi um pouco d´água

Escrevi um verso para ser em mim
Como fôra teu cantar
De canto sozinho,
E tento lembrar

Moça que fica, fia sozinha
Que um trem já te vai passar
Que o meu verso - o meu carinho -
Não é assim de hora em hora
(É sempre noturno meu versejar...)

Olhos de coruja e o meu versinho
São assim como vizinhos
Que não se sabem encontrar
Mas que vivem o mesmo tempo,
Bebem da mesma sede
E se afogam no mesmo bar

Moça que fica e teima sozinha
Sossega que já te vem passar
Aquele meu verso que esqueci,
Que é como a noite
Nos olhos de uma coruja
Que só se queda ao teu olhar
Aquele verso que eu fiz... eu fiz de tudo por apagar...


CRISANTE

ESTA NOITE

Esta noite.
Porque é melhor que seja hoje
Ou nesta hora, e seria formidável
Acordamos juntos nesta manhã.
Vermos que existe agora
E todos os amigos - todos muito ocupados -
Existem agora
E se estes tão apressados vivem
Existe um lugar que é sempre domingo
E é pra ser da gente
Mas me disseram, chamaram-me
De leão, que eu era um leão
E viveria assim só para ser leão.
Que amanhã seria melhor,
E cortei meus pulsos
(Eu amei cortar-me os pulsos)
MEU VERMELHO-INCOLOR
Eu sou homem... não sou leão...
O sangue derramado
É meu jeito de amor...


CRISANTE

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

CANTIGA DE UM AMIGO

Apoena...
Tua presença.
Tão feita de silêncio
É tua presença.
Ocorreu-me agora, como que
Do nada, em trocadilos
Estamíricos em Estamira.
Mulher, que olhos tão castanhos
E negros... e escuro me causa tanto medo.
Negro, um estranhamento...
Mas tua pele branca, tal como que para mentir teu Segredo,
Deixa tudo muito claro, mas ainda existe medo.
Trata-se de Apoena, Rita, este é um grande problema
E quando vejo lá no infinito que vai muito além do infinito, quando vejo lá aquela espécie de poema,
Trata-se de mim, Apoena...

CRISANTE

CANTIGA APOENA

É verdade, das vezes que li,
Das vezes todas em que a li,
Veio-me esta mesma estranha sensação
E, como que para subtrair-me a tristeza,
Ainda que sem intenção, Apoena, menina,
Aconteceste em mim; assim, a modo de dizer
– eu insisto –, és tu, Rita, um estado de coisas cuja
Multiplicidade comum, neste exasperado mundo, nos conduz ao
Instante infinito.



CRISANTE

sábado, 20 de outubro de 2007

AH... O NOSSO AMOR!

APESAR DE TODOS OS PESARES,
CONTINUAMOS EM VIDA O NOSSO AMOR.
PORQUE É SEMPRE MELHOR AMAR,
SEM IMPLICAÇÕES FUTURAS QUE NÃO O PRÓPRIO
AMOR


APESAR DE TUDO, CONTINUAMOS SÓBRIOS
- IM-POS-SI-VEL-MEN-TE SÓBRIOS. UNIVERSAIS
QUE SOMOS, AQUI CONTINUAMOS AMANDO
O NOSSO AMOR, PORQUE É ISSO QUE FAZEMOS:
AMAMOS O AMOR!


POUCO IMPORTA A CRIANÇA, O VELHO OU
SEJA LÁ QUEM MAIS FOR
OU QUE SEJA ELE MÉDICO, ESTILISTA,TURISTA
OU QUEM SABE ENTÃO ATÉ UM LOCUTOR
AQUI AMAMOS - SIMPLESMENTE - EM VIRTUDE DO AMOR,
APESAR DE TUDO!


MAS DAÍ A PENSAR QUE TODA GENTE - INCLUINDO ESTE POETA -
AMOU DE FATO E VERDADEIRAMENTE QUEM QUISER QUE SEJA
TORNA-SE UM EXERCÍCIO UM TANTO QUANTO QUESTIONÁVEL
SEMPRE QUE SAI NOS JORNAIS QUE PEDRO LEVOU SURRA
PORQUE AGUENTOU CALADO O PAU DO ANTENOR!

CRISANTE

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

CANDELÁRIOS

Palavra que se diz da boca desses meninos mortos
Estatela-se nestes tempos de madureza
– de pesados anos que se fiam à porta, e,
Acho eu, não me hão de dar sequer certeza.
A noite descreve-se em orbitas, eu me fico à cama e em
Longos espaços, turvos espaços; Moça aninha-se em meu peito em cansaço
De amar, noturnamente, um amor que é só dela...
[...]

Não ter lugar, terreiro algum em que se possa derramar modos...
Alegra-me apenas a idéia de tal formosura
Em moça amantissimamente devotada, e,
Inda que me faça o pesar, permito-me,
Derradeiramente, (co)mover-me por estes encontros
[...]

O homem antes; meninos mortos em dias de criança
Porque a vida só se ri nos confins da memória
É aí que percebo que grande sorte é dada a este candelário moleque
Que a vida fez tudo por apagar, e que sinto agora carinhado
Pelo cansaço dessa moça – prestes a se apagar – mais que tudo
Em minha vida...
[...]

´´Desejo.É bom ser criança...``


[...]




Escrito numa tarde de 2007, sob forte influência de atividade vulcânica





CRISANTE

sábado, 13 de outubro de 2007

ARIANA MULHER

DA HORA PRIMEIRA, O RISO.
VOLVE O ROSTO E PASSA.
ARIANA MULHER,
VOLVE O ROSTO E PASSA
-COM SEU RISO SEMELHANTE.
APÓS MIM, SEUS PÉS CAMINHAM,
LEVAM-NA, MAS FICA-ME O RETRATO,
ARIANA MULHER...
NESTE MINUTO EM QUE ME DEIXO
EM FACE - COMO QUE EM FACE -,
DEIXO-TE MEU SANGUE, PRECISAMENTE.
E NADA POSSO, E NADA QUERO, SENÃO
QUE TE FIQUES, EM MIM E APÓS MIM, INTACTA,
SUBLIME EM TEU ESTADO, ARIANA MULHER...

CRISANTE

EU

Poeta, teu alimento é a fome
De modo que nada mais te resta
Em face sois avesso e até teu nome
É coisa de se deixar – coisa incerta.

Poeta, tens a fome que o alimenta,
Um querer equivocado e infantil
E qualquer coisa que se inventa,
Coisa qualquer que se sentiu.

O que mais te falta? O que queres mais?
Um tributo, uma prece, um seio cais?
Algo que em ti possa mastigar o sono?

Talvez – isto eu digo sem saber –
Haja ainda, poeta, algo de se perceber
Talvez, quem sabe?, possa haver um outono...

CRISANTE

SOBRE O AMOR DOS PAIS

Porque escrevi minhas palavras
Com o pedacinho de giz que atiraste ao chão
E dele fiz meu mundo
Pedacinho de giz com que pintaste meu nome
...Outra vez menino para as coisas da vida...

CRISANTE

DO AMOR DE ONTEM

Como fosse aquele retrato todo o tempo que passamos juntos
E inda a expressão mais viva da amizade que te guardo
Como dois estranhos caminhos que se cruzam
No caminhar de outros pés pela vez derradeira na vida
E porque todos os caminhos são breves em todas as vidas
Talvez por isto ou por qualquer motivo outro que se desconheça,
Talvez por isto te tenha em mim, secretamente, na falta que te tem teus amores,
E que, ao te ter, te possa encontrar dentre todos os afetos e envolver-te a ti minha fictícia
Melancolia...

CRISANTE

POEMINHO DO SÓ

Poeminho, onde estás?
Aqui sob essa grama?
Quem sabe?, enfim no meu lugar
Não me deixes, então... Tão carecido de ti,
Meu infante poeminho, que até a minguante lua
Urina dor em meu caminho


Mas aí ouvir dizer que foste
Então um passarinho, causou-me inda remorso
Meu pequeno, meu estranho poeminho
Chamado como faz o só,
Rompendo, em última instância, o falso
Senhorio, deixou-me antes o poeta,
O poeta em teu caminho...


CRISANTE

QUEDA EM DOIS TEMPOS

Mas existe a queda
Olhar esquivo, certamente.
Não-ser assim
Outro modo na vista


Dos olhares UMA busca
O que busca o olhar?
A fazenda viva?
O concreto de cada vila?


Mas quando se ama em força
Aninha-se a brutalidade
Porque é amor corrente
Na veia vida deste vaso
É amar no seio e amor no sexo
Porque é vida e não é moral
É amar antes, é amor plural
De gente pra gente.
Não precisa esconder o rosto...

CRISANTE

Dia das Crianças


Acabei de chegar do cinema.
Fui só – como tem sido ultimamente, mais que isso, como tenho me sentido ultimamente.
Estar só não necessariamente implica você se sentir só, mas é o que eu sinto, fazer o quê?

Vi sua mensagem.
Feliz dia das crianças!
Realmente, felicitações recíprocas, porque se engana quem acha que já atingiu o poço da maturidade e não tem seus momentos infantis.

Voltando do cinema, ao parar em uma sinaleira, pensando (pra dizer a verdade não estava pensando em nada, estava era cantando a música que tocava no rádio), vi duas garotas, uns 12 / 9 anos, vendendo alguma coisa.
Aí eu entendi porque o nome do dia é no plural. São mesmo várias crianças.
A do sinal, a de minha casa, a do morro, a de dentro e a de fora do carro, a de dentro e a de fora do contexto, a que sabe e a que não sabe que é o dia dela.
Em que pese tantas vírgulas, é dia de todas elas.

Não cheguei a ficar triste, no máximo reflexiva. Ultimamente ando resignificando tristeza, e por isso não quero usar essa palavra, ficou comum demais.
Só pensei que queria ter um presente naquela hora para dar àquelas meninas!
Ah, elas precisam de muito mais que isso, diriam os velhos chatos de plantão. Não dê isso, não dê aquilo, vamos fazer 564 reuniões pra discutir a raiz da questão (sem nenhuma referência ao PT aqui).
Numa boa, ali a única coisa que pensei foi: elas precisam sorrir!

Fui pra casa, o sinal abriu.
O delas talvez tenha continuado vermelho.
O meu também, acho.
De formas diferentes estamos todos vendendo alguma coisa. Uma bala, uma caneta, nossa indignação, nosso silêncio...
Pague um, leve três!

E viva os Renans!
E viva os Lulas!
E viva as crianças!


Anna O.